quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Artigo
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COPA 2014
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O JOGO É SUSTENTABILIDADE
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Rodrigo Corleto Hoelzl*
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Os investimentos para melhorar a infraestrutura das cidades que servirão co­­mo sede da Copa de 2014 estão em discussão. Qual será o legado que esses projetos trarão para o desenvolvimento das ci­­dades depois da Copa? Surge uma grande oportunidade para pensarmos em planejamento urbano, mas não podemos focar nossas ações e recursos apenas para o próprio evento. Temos de pensar no legado que será deixado para a nossa população. Temos de ter a responsabilidade de realizar bons projetos, que sejam sustentáveis para gerações de brasileiras – e não apenas para atendermos os turistas que virão para ver os jogos.
Sem sombra de dúvida, Curitiba tem uma das melhores situações de infraestrutura para sediar um evento desse porte, principalmente no quesito transporte coletivo. Temos uma rede de transporte sem comparativos mundiais, que abrange toda a cidade e grande parte da região metropolitana, por meio da integração física e tarifária. O que precisamos fazer, então? Propor um novo modal para substituir um eixo consolidado de transporte, que endividará a cidade, reduzindo sua capacidade financeira para fazer frente a outras necessidades como saúde, segurança e educação e que trará maior custo para a tarifa e precisará de altos subsídios para a operação?
Já sabemos a resposta. Com muito menos recursos podemos modernizar nosso sistema de transporte com a implantação de um sistema inteligente de informação aos passageiros – os chamados ITS. Podemos ter uma gestão eficiente de bilhetagem eletrônica, que amplie a oferta de pontos de venda para os usuários e melhore as informações técnicas para um adequado planejamento operacional, aliando tudo isso a grande segurança para os usuários e implantar a priorização semafórica para as canaletas exclusivas.
Essas ações trarão, em primeiro lugar, um sistema sustentável para os cidadãos que vivem aqui. Também farão com que o sistema seja mais atrativo, aumentando o conforto e segurança dos usuários e, como consequência, atrairemos novos usuários, abrindo um ciclo virtuoso capaz de tornar nosso sistema novamente sustentável para nossos cidadãos.
Muito se fala em custos do sistema, de valor de tarifa. Vale lembrar que uma enorme quantidade de variáveis influenciam o custo das tarifas. Não apenas a quantidade de passageiros e o total de quilômetros rodados. Entram na conta também os projetos de lei ampliando gratuidades e isenções, políticas de incentivos ao transporte individual com isenções de impostos, a falta de um plano de mobilidade urbana adequado, o projeto de lei de mototáxis aprovado pelo Senado Federal, entre outras variáveis. A falta de uma política de incentivo leva ao encarecimento do transporte coletivo em nossas cidades. Há também efeitos colaterais do baixo uso do transporte coletivo: o aumento de congestionamentos, acidentes de trânsito e níveis de poluição.
Sustentabilidade se faz com equilíbrio econômico, ambiental e operacional, com um sistema que alie boas práticas operacionais, suportadas por tecnologia já existente em outros sistemas. Precisamos de um modelo ambientalmente responsável, mas sem ideais inatingíveis e que encarecem a operação; algo economicamente viável, revendo isenções e gratuidades e desonerando os custos do setor. Afinal, quando todos os usuários pagam, cada um paga menos.
Sustentabilidade é o jogo que precisamos jogar. Os pontos a serem marcados são as conquistas de melhor mobilidade em nossas cidades. A vitória será de todos os usuários atuais e futuros, que ganharão um sistema mais transparente, mais amplo e com maior produtividade e, principalmente, com tarifa justa.
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* Presidente do Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana.
Jornal Gazeta do Povo 13/08/2009

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