segunda-feira, 20 de julho de 2009

Transpublico

BRT - O FOCO DA MÍDIA


Antonio Ferro

Amplamente discutido na 22ª. edição do Seminário Nacional NTU, com a Feira Transpúblico ocorrendo paralelamente, o tema BRT (Bus Rapid Transit) pode ser elemento chave para melhorar a mobilidade das grandes cidades brasileiras.

Faço deste começo de artigo uma pergunta: se o Brasil não fosse o escolhido para sediar uma Copa do Mundo de futebol, estaríamos debatendo calorosamente o assunto BRT como promoção para melhoras significativas em nosso transporte público? Insisto bater nessa tecla apenas em dizer que nossas necessidades diárias em termos de transporte, mobilidade e qualidade ambiental se fazem presentes há muito tempo e que na urgência em proporcionar profundas modificações estruturais não podemos mais esperar por eventos de importância internacional para que sirvam como mola indutora em nosso desenvolvimento.

Otavio Vieira - Transporte por ônibus precisa receber mais atenção.
Foto - NTU

Durante o seminário nacional Transporte Público na Copa do Mundo, evento realizado pela NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos), os painéis de debates destacaram a implantação do BRT (Bus Rapid Transit) nas 12 cidades-sede da Copa, com extensão para outras cidades brasileiras densamente povoadas. E a expectativa por investimentos em sistemas de transporte público foi notada em cada palavra proferida por variados profissionais que pelo seminário passaram. Otávio Vieira da Cunha Filho, presidente da NTU, entidade que reúne 500 empresas do transporte urbano, revelou que ao longo dos últimos 20 anos houve uma ausência do Governo Federal em implementar políticas públicas em transporte coletivo. “Muito pouco foi feito para o transporte público, ao contrário do transporte individual que sofreu amplos benefícios (redução do IPI - Imposto sobre Produtos Industrializados - para a aquisição de carros). Nossos governantes ficam com receio de reduzir os espaços para os automóveis. Não temos um organismo público que defenda o ônibus no cenário brasileiro”, afirmou ele.

Lerner - O ônibus é uma solução nos meios urbanos.
Foto - NTU

Já o arquiteto Jaime Lerner, ex-prefeito de Curitiba (PR) e criador do conceito BRT no Brasil, foi enfático em afirmar que a Copa do Mundo é uma oportunidade rara, mas que deve ser aproveitada de forma correta, sem promover expectativas que não possam ser cumpridas. “Transporte público sempre é tema de discussão política, mas nunca com propostas claras, de longo prazo ou que saem do papel. Precisamos aproveitar que a Copa de 2014 será no Brasil para investir no setor. Pelo tempo que temos e sobretudo pelo custo de implantação, o BRT é uma das melhores alternativas”, destacou Lerner. Ele acredita que o futuro dos transportes esteja na superfície, mas que simplesmente não sub-valoriza os sistemas subterrâneos. “Precisamos de uma visão prática para a solução conjunta entre todos os meios de transporte coletivo e não a regressão, como no caso do moto-táxi, atividade aprovada recentemente pelo Congresso Nacional”, comentou.
Segundo informações da NTU, um estudo técnico revela que o sistema BRT oferece vantagens em relação aos outros sistemas de transporte público de massa no que diz respeito a prazo e custos de implantação. Pelo levantamento, um corredor de BRT com 10 km de extensão pode ser desenvolvido em 2,5 anos com investimento de R$ 111 milhões. A mesma extensão para o metrô requer 9 anos e R$ 2,01 bilhões e o VLT (veículo leve sobre trilhos) exige 5 anos e demanda R$ 404 milhões. “O BRT é uma invenção genuinamente brasileira e vem sendo exportada para vários países com bons resultados. Além disso, temos uma das maiores indústrias de ônibus do mundo”, mostrou Fric Kerin, economista e um dos autores do estudo. Jaime Lerner ainda revelou que no Brasil há 40 cidades com mais de 500 mil habitantes e que a implantação de BRT’s pode revolucionar seus sistemas de transporte público.

OH 1518 piso baixo - Mais uma opção da Mercedes Benz para o mercado urbano.

Evento paralelo ao seminário, a Feira Transpublico destacou chassis, carroçarias e produtos destinados ao setor de transporte coletivo. Dentre as novidades, a Mercedes Benz levou o seu chassi conceito OH 1518 Low Entry idealizado para carroçarias com 11 metros de comprimento e linhas alimentadoras urbanas. Segundo a montadora, sua exposição é para verificar se seus clientes terão interesse por mais essa versão. Ela também destaca o piso baixo e a suspensão pneumática que promovem a acessibilidade total em embarques e desembarques e a instalação do motor traseiro, opções para atender as cidades com especificações rígidas no quesito qualidade em transporte. O modelo tem bloco OM 904 LA, de quatro cilindros e 177 cv e caixa de transmissão automática Allison. A sua versão com piso normal e suspensão metálica já é disponibilizada ao mercado brasileiro. A marca também volta sua atenção para oferecer soluções quando o assunto é transporte por ônibus com alto desempenho. “A realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil demandará investimentos no aprimoramento da infra-estrutura de transporte, visando assegurar a mobilidade de turistas e torcedores com agilidade, conforto, acessibilidade e segurança. Nossa assessoria especializada em BRT, com uma equipe focada neste sistema de transporte desde 2007, apoiará Órgãos gestores e empresas operadoras no sentido de projetos e produtos adequados a atender todos os requisitos necessários”, lembrou Curt Axthelm, gerente de Marketing de Produto – Ônibus da Mercedes-Benz do Brasil.

17.260 EOD - Novidade em chassis urbanos.

Outra nova ficou por conta da Volkswagen Caminhões e Ônibus, empresa da MAN Latin America, que apresentou o chassi 17.260 EOD de motorização frontal aliado a robustez já consagrada do modelo VW 17.230 EOD com um novo trem de força, que atende perfeitamente as aplicações urbana e de fretamento. Segundo Ricardo Alouche, diretor de Vendas, Marketing e Pós-Vendas da Volkswagen Caminhões e Ônibus e da MAN Latin America, os ônibus com motor dianteiro representam 55% de todos os veículos vendidos no Brasil e foi pensando nesse grande mercado que a montadora passou a oferecer mais um produto. “Por serem robustos e com potência e torque elevados, os novos chassis são ideais para operações urbanas, com grande volume de passageiros e más condições das vias. Além disso, se tornam uma excelente solução para frotistas de fretamento que buscam na motorização dianteira uma solução para a sua aplicação, especialmente devido ao seu menor investimento inicial e custo operacional inferior quando comparado com modelos de motor traseiro”, enfatizou ele. Outro destaque é que o chassi também pode contar com a transmissão automatizada V-Tronic com 6 velocidades, além da caixa mecânica. O modelo tem motorização eletrônica MWM 6.12 TCE com seis cilindros, desenvolve potência de 260 cv, seu sistema de injeção é do tipo Common Rail e possui polia adicional para ar condicionado opcional.

Scania - Produtos para todos os segmentos no modal urbano.

De origem sueca, outras duas montadoras participantes apostam suas fichas no incremento do transporte público para a Copa do Mundo. A Scania está retornando com o seu chassi de motor dianteiro. O F230/270 (já revelado por este blog) tem duas opções em potência – 230cv e 270cv e é indicado tanto para o transporte urbano que exige robustez, como para o serviço de fretamento, que utiliza carroçarias com apenas uma porta. Se o foco foi BRT, a marca aproveitou o momento e também expôs o K270 6x2*4 com 15m de comprimento e terceiro eixo direcional idealizado para atender altas demandas de passageiros. Encarroçado pela Caio/Induscar para a operadora Metra, ele tem piso baixo e ar condicionado, além ampla área envidraçada. “Com esta participação, a Scania quis mostrar que está atenta às atuais necessidades de transporte de passageiros no Brasil, e por isso apresentou as opções que mais se adequam as demandas de robustez, conforto e segurança aos usuários”, disse Wilson Pereira, gerente executivo de Vendas de Ônibus da Scania do Brasil.

Volvo - Tecnologia embarcada em ônibus urbanos.

No stand da Volvo Bus Latin America estavam o seu novíssimo chassi articulado B9Salf e o modelo B7RLE. O B9Salf, que ainda é produzido na versão bi articulada, reúne características que proporcionam total acessibilidade em seu piso baixo integral. “A Volvo é a única montadora a produzir e comercializar um ônibus com um motor que é colocado entre os eixos. Esta disposição possibilita a instalação das quatro portas em piso baixo e não é necessário a colocação de escadas e nem existem desníveis no interior do veículo”, destacou Euclides Castro, gerente de ônibus urbanos da Volvo Bus Latin America. O veículo vem com o bloco de 9 litros e 360cv de potência, que atinge 1.600 Nm de torque. O B7R LE, com piso baixo, destinado aos serviços urbanos em linhas alimentadoras, é equipado com o motor D7E de sete litros, posicionado na parte traseira. Possui injeção de combustível e tecnologia common rail, com seis cilindros em linha, turboalimentado e intercooler. Para o operador são oferecidas duas opções de transmissão automática - Voith 864.5E de quatro marchas ou ZF6HP554-N de velocidades. A Volvo informa que ele traz também a arquitetura eletrônica chamada BEA-2. “Sua segunda geração é formada por módulos eletrônicos interligados em rede que monitoram os sistemas do motor, do chassi, do painel de instrumentos e de outros importantes componentes do veículo”, disse Fabio Lorençon, engenheiro de vendas da Volvo Bus Latin America.

Um comentário:

  1. Respondo tua pergunta com um exemplo prático: Goiânia. Quando a cidade era candidata a sede das partidas, compraram microônibus da Comil com diversos requintes, mas com passagens pelo dobro do já salgado preço do ônibus comum, além de reformarem os terminais. Vista a decepção, pararam com os investimentos (salvo o que já tinham começado) e baixaram o preço da passagem do apelidado "Frescão" (Virou "Frescomil"), além de inventarem um bilhete com validade para o dia todo, o que, claro, é quase que só para quem quer passear. Eu não tenho tempo de saracotear pela cidade, muito menos nas péssimas linhas urbanas que temos. Quanto ao evento, gostaria que discutissem a substituição dos chassis por monoblocos, ou pelo menos gaiolas estruturais, muito mais adequados ao transporte de gente, apesar de eu saber bem o que pesa nos custos uma alteração desse naipe.

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